A propósito do Dia Internacional de Consciencialização para a Hepatite C, assinalado a 1 de outubro, Rita Serras Jorge, médica e elemento do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da SPMI, assina este artigo de opinião.
Apesar dos avanços científicos na área, a nível mundial, surgem anualmente 1,5 milhões de novos casos da doença e esta é atualmente responsável por cerca de 300.000 mortes por ano. Determina ainda morbilidade significativa e custos elevados na área da saúde. Em 2015, as hepatites virais no seu conjunto eram a 7.ª causa de morte no mundo.
Dado o elevado impacto desta doença, as Nações Unidas na sua Assembleia Geral de 2015 definiram na Agenda para 2030 vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nos quais incluíram a erradicação das hepatites como principais causas de morte até essa mesma data. Desde então, a Organização Mundial de Saúde tem emitido várias orientações para o atingimento deste objetivo, incluindo medidas ao nível da prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados aos doentes com hepatite C.
Para o atingimento destas metas, foi criado em Portugal o Programa Nacional para as Hepatites Virais, sob alçada da Direção Geral de Saúde, que tem como diretor o Prof. Rui Tato Marinho. Este programa visa coordenar ações e desenvolver orientações para os profissionais de saúde e organizações não governamentais (ONG) envolvidas na área de forma a que estas metas sejam atingidas.
No seu último relatório, apresentou como objetivos para os próximos dois anos, a criação de normas para que todos os indivíduos realizem o teste da hepatite C pelo menos uma vez na vida, a par de uma intensificação do rastreio junto dos grupos de risco, procurando ainda uma descentralização dos cuidados de saúde de forma a aproximá-los das populações mais difíceis de acompanhar e tratar, como por exemplo os utilizadores de drogas, os reclusos, os sem abrigo e os profissionais do sexo.
Dada a facilidade atual de tratamento, o esforço dos profissionais de saúde a nível mundial têm-se centrado no diagnóstico do maior número de indivíduos, com enfoque particular nos grupos de risco, e na agilização do acompanhamento, disponibilização e cumprimento do tratamento. Em Portugal, têm sido levadas a cabo várias ações de rastreio da população geral, estando inclusive disponíveis testes rápidos nalgumas farmácias comunitárias.
O acompanhamento comunitário de indivíduos em situação de exclusão social, inseridos em programa de reinserção ou recuperação, frequentadores de programas de consumo Assistido de estupefacientes, etecétera, tem constituído uma prioridade e o trabalho desenvolvido entre os profissionais de saúde e as ONG que dão apoio a estes indivíduos tem resultado em ganhos significativos no cuidado aos mesmos, possibilitando um diagnóstico de proximidade e um acompanhamento ao longo do processo de tratamento.
Contudo, muito há ainda a ser feito. É também necessário consciencializar a comunidade e o poder político para estas problemáticas.
Se tem algum dos fatores de risco acima mencionados e nunca realizou o teste da hepatite C, fale com o seu médico. A hepatite C tem cura!
*Artigo de opinião assinado pela médica Rita Serras Jorge
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